sábado, 1 de outubro de 2011

Um lugar chamado Ein Gedi

   Há muitos lugares surpreendentes no mundo. Um deles eu tive a oportunidade de conhecê-lo agora, em nosso retorno a Israel. Trata-se de Ein-Gedi, nome hebraico para “Fonte dos Cabritos”.  Além do nome pomposo, o lugar é fartamente citado na Bíblia, e em situações que atiçam nossa imaginação.
    Ein Gedi é um lugar de povoação muito antiga, o que é atestado por sua citação entre as cidades de Judá ainda nos tempos da conquista de Canaã (Jos 15.62).  Escavações conduzidas desde 1949 confirmam a antiguidade do sítio. Arqueólogos encontraram nas imediações um templo antigo e o dataram do período calcolítico (entre 4.300 a 3.300 a.C). Ossos e cinzas de animais encontrados em covas circulares eram os remanescentes dos sacrifícios ali oferecidos.
     Onde seria esse lugar? Onde se situa Ein Gedi?
     Há pistas no texto bíblico sobre sua localização. O profeta Ezequiel é quem nos fornece a primeira dica:
   Na visão das águas purificadoras, registradas no capítulo 47, Ezequiel vê águas que fluem do Templo se derramarem, saírem pelas portas de Jerusalém, e descerem até o Mar Morto (Ez 47.8). Ali, um lugar onde não há qualquer tipo de vida, as águas cheias de minerais do mar tornar-se-iam doces,  e enxames de peixes povoariam o Mar, o que atrairia pescadores e estes estenderiam suas redes “desde Ein Gedi até Ein Eglaim” (Ez 47.10).  
   Na descrição de sua visão, Ezequiel situa Ein Gedi na região do Mar Morto.
   Estávamos em Tiberíades, às margens do Mar da Galiléia, e dirigimos aproximadamente 200 km rumo ao Sul, seguindo a Rodovia 90, que corta o país de Norte a Sul (da fronteira com o Líbano, até a fronteira com o Egito, em Eilat, no Mar Vermelho).

   No Mar da Galiléia já estávamos a pouco mais de 200 metros abaixo do nível do mar, em pleno “Vale da Grande Fenda da África”. Este é um dos grandes caprichos do Criador:  uma gigantesca falha geológica que estende-se desde o vale do Jordão, no norte de Israel, até Moçambique, num incrível total de 6.400 quilômetros!
   A Rodovia 90, contorna a margem ocidental do Mar da Galiléia e continua seguindo a Grande Fenda, através do Vale do Jordão, que enfim deságua no Mar Morto. Do mar da Galiléia ao Mar Morto descemos mais 200 metros e atingimos o ponto mais profundo da Terra, 400 metros abaixo do nível do mar!
   Seguimos margeando o Mar Morto por alguns quilômetros e pudemos perceber o quão inóspito é aquele lugar.  O sol é intenso, a estrada corre espremida entre o Mar Morto e os penhascos marrons que caracterizam os paredões da Grande Fenda em sua região de maior profundidade.
    Porém, seguindo as indicações do profeta Ezequiel estamos próximos a Ein Gedi.

    Se hoje o Deserto de Judá é pouco povoado, imagine na época de Davi! Era quase totalmente desocupado... Seria então o lugar ideal para um homem esconder-se, desde que houvesse água disponível... O Primeiro Livro de Samuel então nos dá outras dicas da localização de Ein Gedi:
    Um lugar de fortalezas (I Sm 23.29), no deserto (I Sm 24.1), um lugar de penhascos e de cabras monteses (I Sm 24.2), onde havia caverna (I Sm 24.3).
    Se existe um lugar no deserto onde podemos encontrar seres vivos, no caso, cabras monteses, e seres humanos que fizeram dali seu lugar de habitação, então este lugar tem água. Estamos falando de um oásis, o maior oásis na margem ocidental do Mar Morto: Ein Gedi.
    Chegamos então em Ein Gedi, onde nos encontramos com o passado! Fiz o registro no hotel, municiei a mochila com água e paguei a entrada na Reserva Natural Ein Gedi.
    Muito cedo entendi o porquê do nome do lugar: “Fonte dos Cabritos”. Pude ver cabras monteses, pequenas ou maiores caminhando e pastando tranquilamente... Pastando? Sim, no cenário quente e seco, uma corrente permanente de água garante vegetação que quebra a monotonia marrom da paisagem e irrompe um verde que alimenta as cabras monteses.

    O cenário corresponde perfeitamente à descrição do texto de I Samuel. Fugindo de Saul, Davi procura esconderijo nestes penhascos cheios de cabras monteses (I Sm 24.2).

     Vou seguindo o caminho da água através do Wadi David pois acredita-se que foi por aqui que Davi com seus homens procurou esconderijo. Quando se lê I Sm 23.29, encontramos: “Davi subiu e permaneceu nas fortalezas de Ein-Gedi”. O que seriam estas fortalezas? Uma cidade murada? Algum tipo de estrutura militar? Não, não. Olho em torno e percebo que as fortalezas de Ein Gedi eram os inacessíveis refúgios nas rochas da montanha!

    Aqui, posso entender muito melhor as palavras do jovem Davi expressas no Salmo 18.2. Para Davi, Ein Gedi significou livramento, proteção, cuidado de Deus através daquela perene fonte de água, fortaleza, refúgio:
   “O Senhor é a minha rocha, a minha fortaleza e o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo, em quem me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação e a minha torre de proteção.”
    Aqui em Ein Gedi, estas palavras assumem um sentido ainda mais forte!   

      Mais acima da pequena Cascata de Davi está a Caverna de Dodim. Lembro então da narrativa pitoresca e interessante, que bem pode ter acontecido aqui:

    Buscando um lugar para aliviar uma aguda pressão intestinal, o Rei Saul fez uma breve pausa em sua caça ao seu genro Davi, ao encontrar uma caverna nos penhascos de Ein Gedi. Entrou na caverna,  e imediatamente, aproveitou a privacidade e escuridão do lugar para satisfazer suas necessidades fisiológicas (I Sm 24.3), sem saber que era assistido por Davi e seus soldados!!!!!!! Que dureza!  Muitas testemunhas para a defecada real... Enquanto realizava sua obra fecal, Saul não percebeu que seu manto estendido no solo teve um pedaço de sua orla cortado por uma espada misteriosa.  
  Ao sair, o Rei Saul foi supreendido pelo grito de Davi que com uma ponta de seu manto na mão, ratificava sua lealdade e fidelidade (I Sm 24.8-15).

    Não podemos deixar de falar sobre outra citação importante feita no texto bíblico acerca de Ein Gedi. Trata-se de um trecho do Cântico dos Cânticos: “O meu amado é para mim como um ramalhete de flores de hena das vinhas de Ein Gedi” (Cant 1.14).
   As vinhas incluem uvas, mas não se limitam a essas frutas. Segundo o texto havia em Ein Gedi plantações de hena, cujas flores juntas num ramalhete eram sinônimo de beleza, o que mais alto poderia existir em padrão estético.  Hena é uma especiaria ainda hoje utilizada como matéria prima para produção de cosméticos. As flores de Hena de Ein Gedi eram as melhores das melhores...
   Escavações em Ein Gedi encontraram instalações industriais nas casas, as quais foram interpretadas pelos arqueólogos como oficinas para preparação de um produto exclusivo – talvez um perfume de bálsamo, o qual, pelo que se sabe, foi o produto mais importante dessa região durante o período do segundo templo.
   Além de tudo, Ein Gedi era a Paris dos cosméticos de Israel... a Sulamita sabia o que dizia, em comparar as flores de Ein Gedi com a beleza do seu amado. Ninguém melhor de que uma mulher para avaliar tais coisas!


5 comentários:

  1. Que legal o seu texto Ezion! Se um dia eu tomar coragem pra ir a israel vou querer dicas..rsrs.
    abraços

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  2. É... fantástica reflexão. É interessante ver q até no deserto, coisas maravilhosas acontecem e podem ser extraídas de lá.

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  3. Lendo tudo isso na Bíblia já fico maravilhada, imagina ver tudo isso? deve ser perfeito, tenho vontade de conhecer esses luagares, quem sabe um dia, mas você descreveu tudo muito perfeito, deu pra viajar junto na história.Parabéns!

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  4. Realmente irmão, a sua descrição tão minuciosa sobre este lugar me deixou encantada. Me permiti viajar juntamente com você, neste relato tão interessante e surpreendente.Gosto muito do livro de ISamuel, dei asas a minha imaginação! As fotografias deste lugar ficaram belíssimas. Parabéns, e que Deus continue te abençoando, para que possas conhecer ainda, muitos outros lugares tão deslumbrantes quanto esse.

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  5. É um texto encantador e cômico, pois ri muito de Saul!!! rs A Dionara disse tudo! Parabéns! Que Deus possa continuar lhe usando para nos abençoar com a sua Palavra tão bem transmitida!

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